9 de outubro de 2011

Otimizando o POTENCIAL CRIATIVO brasileiro


Os brasileiros estão com fome de desenvolvimento, cansados de encontrar apenas textos filosóficos e não ver nada de concreto. Eles querem fazer e comer logo o bolo. E quanto mais gente lhes fizer companhia, melhor.

Então, eu dou-lhes essa receita, a qual pode absorver variações de diversas origens. Afinal, não sou nenhum chef, e "cada um de nós é ruim na pretensão de ser o melhor" (Pe. Marc Lambret).
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Fonte da imagem

"Em todos os países desenvolvidos, a universidade é a locomotiva tecnológica. Entretanto, no Brasil sempre existiu um abismo de distância entre a realidade das empresas e das academias. [...] Quem sabe, um dia, algum laboratório vai me ligar e me perguntar o que eu precisaria para crescer e gerar mais empregos".
(Carlos Aurélio Donida, empresário)

"Dinheiro público até tem. Mas é uma burocracia grande para ser liberado. A parceria com a iniciativa privada dá mais agilidade".
(João Calixto, cientista)


"A visão ideológica de que a academia não deva se “render” ao mundo produtivo parece-me atrasada. O setor produtivo é a fonte do crescimento do país. Portanto, ele deve ser um aliado, não um inimigo".
(Gustavo Ioschpe, economista)
 

O estudante/cientista brasileiro é preparado para resolver de maneira crítica os problemas que aparecem, sabendo escolher as ferramentas e modelos apropriados. Embora em outros países aconteça de o cientista ser melhor preparado para desenvolver essas ferramentas e modelos, o potencial de criação do estudante/cientista brasileiro também é enorme, graças ao seu senso crítico.

De nada serve uma melhor educação de base se esse potencial já existente não se transformar em atividade corrente. Para isso, em analogia à Lei de Ohm, basta diminuir a resistência:

(1) unindo competências (muitas vezes no mesmo corredor do prédio), ao invés de medi-las.

(2) estabelecendo manuais de qualidade1 dentro de cada instituição de pesquisa. Afinal, unicamente com ordem é que se chega ao progresso.

(3) criando um portal unificado para divulgação da pesquisa nacional, dos laboratórios, dos seus integrantes e suas atividades, com mecanismos avançados de busca. 

(4) valorizando o laboratório e sua imagem externa com um website acolhedor, informativo, instrutivo, e (claro) atualizado.

(5) oferecendo ao estudante/cientista e ao laboratório onde ele trabalha as condições para realmente pesquisar, com:
   (5a) inve$timento e
   (5b) tempo de reflexão em detrimento de horas-aula ministradas2.

(6) incentivando o intercâmbio acadêmico também a nível nacional.

(7) recebendo os intercambistas em centros de acolhida3 e com oferta de residências estudantis4 pagas, ambos governamentais.

(8) incentivando a especialização do estudante de graduação, concedendo-lhe oportunidades de direcionar seus estudos na área de seu maior interesse, desde calouro.

(9) atraindo competências qualificadas ao trabalho solicitado:
  (9a) com um portal online atraente dedicado ao envio de candidaturas às vagas oferecidas.
  (9b) nas vagas, detalhando o assunto do trabalho (principalmente) além do tipo de formação procurada, a fim de orientar o candidato em suas escolhas.
  (9c) nos processos seletivos, aumentando o filtro técnico sobre o filtro psico-social.

(10) possibilitando a realização:
  (10a) de trabalhos de conclusão de curso dentro de empresas em estreita proximidade com as universidades (tema possivelmente proposto pela empresa, e o aluno como estagiário).
  (10b) de teses de mestrado / doutorado / pós-doutorado da mesma forma (o pesquisador como funcionário da empresa em tempo integral).

Os itens (10) trazendo, como consequência, imediato aumento:
   (10-I) de remuneração e motivação do pesquisador.
   (10-II) de valor econômico do resultado da pesquisa.

(11) sujeitando os itens (10) a contratos baseados na Propriedade Intelectual. Sim, conhecer5 como ela funciona também confortará e motivará muitos.

Na verdade, tão importante quanto um manual de qualidade é a sua ideia intrínseca: valorizar a comunicação interna, sabendo:

(A) que todos nós podemos assumir o papel de aprendizes, fazedores e professores, do presidente ao novo estagiário.

(B) que seu colega não é aquele de quem você deve ser amigo para ganhar seu respeito, mas aquele que você deve respeitar para, quem sabe, reconhecê-lo como amigo.

(C) que um chefe não é apenas aquele que distribui tarefas e recursos, mas também aquele que está atento às necessidades que seus funcionários identificam para melhor servir os clientes da empresa. Afinal, são eles a base da pirâmide hierárquica e, como toda base, sustentam o grupo.
 
Então, em seguida - e apenas em seguida - comecemos pelo ponto (1).

Viva! Teremos muito mais pesquisa e tecnologia de ponta. Brasileira6.

_________________
1 Nenhuma nova pessoa no laboratório deveria começar seu trabalho sem tomar conhecimento das boas práticas adotadas. Nenhum novo laboratório deveria receber aval do governo sem possuir um manual de qualidade adaptado.
2 Sim, em detrimento de horas-aula. Um dos problemas do professor em universidade federal brasileira, ligado à regulamentação da profissão, é a dificuldade de dedicação à pesquisa devido ao tempo exigido à sala de aula e atividades relacionadas (às vezes puramente administrativas).
3 Muito importantes para facilitar e incentivar a mobilidade acadêmica, criadora de diversidade cultural e intelectual, fonte de crescimento para todos (hóspedes e anfitriões).
4 O intercambista quer morar com qualidade e segurança em quarto individual para estudar sua profissão, e não como funciona o sistema locatário de imóveis e suas inúmeras ofertas, as quais raramente são otimizadas às necessidades do estudante.
5 Oferecer, na graduação, uma disciplina relacionada (ou simples palestras regulares) não seria uma má ideia.
6 Fonte do retorno de todo o inve$timento. O ciclo fecha!



> Você não concorda com algum dos pontos? 
   Deixe seu comentário abaixo!

> Você acha tudo isso muito difícil (como um "bom" brasileiro)?
   Então vamos começar "pequeno": pelo nosso laboratório, universidade, empresa... Os outros só vão gostar. E querer copiar.

Tenho a esperança de que essas palavras digam, a cada um, alguma coisa do desenvolvimento que todo brasileiro espera do seu gigante pela própria natureza.




> Você tem tempo e está curioso? Então descurbra de onde veio essa receita.


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4 comentários:

  1. Fantástico texto, eu como estudante e profissional da pesquisa e desenvolvimento dentro do setor privado brasileiro concordo absolutamente e já presenciei situações em que se poderia ter lucrado muito se algumas dessas atitudes tivessem sido tomadas, e não foram nem por causa de falta de recursos ou competência técnica, mas por falta de organização.

    Vários desses pontos já haviam passado pela minha cabeça. Os brasileiros estão longe de ser inferiores do ponto de vista técnico e intelectual, aliás, pela força de vontade desse povo grandes produções foram realizadas mesmo com poucos recursos e apoio. Até mesmo os esportes refletem essa característica.

    A academia sai perdendo, do meu ponto de vista, também por causa do aspecto cultural, o estudo não é muito valorizado por aqui, conheci grandes talentos desperdiçados por causa disso. Vide o "Estudar vale a pena" e entenderá do que falo.

    Com uma melhor administração da ligação entre as empresas e universidades poderemos ir longe.

    A frase resumiu bem nossa condição:
    Os brasileiros estão com fome de desenvolvimento, cansados de encontrar apenas artigos filosóficos e não ver nada de concreto. Eles querem fazer e comer logo o bolo. E quanto mais gente lhes fizer companhia, melhor.

    Não é só pagando por quantidade de paper publicado que teremos produção de qualidade.

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  2. Lovatto,
    O texto ressoa com o que muitos queremos fazer.
    Precisamos de resultados!

    Eu gostaria de compartilhar contigo e com os que te lêem o vídeo do Cássio Spina, da Anjos do Brasil: http://www.youtube.com/watch?v=Ld5JpU8vyrM
    Grato,
    DAO

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  3. Marco Leonardelli Lovatto19 de novembro de 2011 às 21:27

    Muito obrigado DAO!

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  4. "A maioria das instituições brasileiras se limita a exigir que seus alunos cumpram o currículo do curso, sem incentivá-los a se aproximar da iniciativa privada".

    "Além disso, em geral, as pesquisas estão mais voltadas à criação de conhecimento e menos preocupadas em fazer com que o conhecimento produzido chegue ao mercado. Quando a parceria é feita, os dividendos ajudam a sustentar a própria instituição: a Universidade de Jerusalém, por exemplo, recebe anualmente 1 bilhão de dólares por ano de royalties, oriundos das empresas ali instaladas".

    "Nos EUA, o Escritório de Desenvolvimento Tecnológico da Universidade Harvard até possui seu próprio fundo para ajudar o desenvolvimento de tecnologias em estágio inicial que surgem no campus – e prepará-las para serem licenciadas e comercializadas".

    Estes são trechos do artigo "Startups encaram obstáculos das pequenas empresas no Brasil" - http://exame.abril.com.br/pme/startups/noticias/startups-encaram-obstaculos-das-pequenas-empresas-no-brasil?page=1&slug_name=startups-encaram-obstaculos-das-pequenas-empresas-no-brasil

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